domingo, 4 de maio de 2025





O Tempo que Nos Escapa / Carmen Regina T. de Quadros

          Mais um mês chegou ao fim, e outra vez surgiram os comentários sobre como o mês pareceu interminável. Mas por que tanta pressa para que o tempo passe? Por que essa ansiedade constante em relação aos dias, como se estivéssemos sempre esperando algo melhor no futuro? Passamos o ano contando as horas para as férias, e quando elas chegam, lamentamos que passaram rápido demais.

           O tempo, no entanto, é um mistério. Às vezes parece nos arrastar consigo, outras vezes voa sem que percebamos. Mario Quintana já nos alertava sobre essa cegueira cotidiana: “Quantas vezes, tal como o avozinho infeliz, os óculos procuramos, tendo-os na ponta do nariz”. Assim também vivemos em relação ao tempo e à felicidade. Muitas vezes, aquilo que tanto procuramos está bem diante de nós, mas seguimos distraídos, esperando algo grandioso, sem notar que o presente já é valioso.

          Vivemos numa eterna contradição: queremos que o tempo corra quando estamos sobrecarregados, mas desejamos que ele desacelere nos instantes que nos trazem felicidade. O tempo, no entanto, não obedece nossos anseios. Ele apenas flui. A sensação de que um mês se arrastou ou voou está mais ligada ao nosso estado de espírito do que ao relógio. Quando estamos cansados, preocupados ou entediados, o tempo parece se estender. Já quando estamos felizes ou distraídos, ele escorre entre os dedos.

          Curiosamente, quando éramos crianças, o tempo parecia infinito. As férias eram longas, os dias se estendiam entre brincadeiras, e as esperas pareciam eternas. Mas, à medida que crescemos, passamos a medir o tempo por compromissos, prazos e responsabilidades, e ele começa a escapar de nós. O que muda não é o tempo em si, mas a forma como nos relacionamos com ele.

           O mundo também mudou, e com ele nossa percepção da passagem do tempo. Antes, as pessoas caminhavam mais, viviam com menos pressa. Como as interações eram mais profundas, os encontros tinham mais significado. Hoje, com a aceleração digital, tudo se tornou instantâneo. A cada notificação que recebemos, nossa atenção é desviada para o futuro, para o que vem depois, e nunca para o agora. A pressa em consumir informações e a necessidade de estar sempre atualizado criam a sensação de que o tempo escorre pelos dedos. Mas será que ele realmente passou mais rápido ou fomos nós que deixamos de vivê-lo com plenitude.

          Além disso, aprendemos a associar o tempo à produtividade. A ideia de que "tempo é dinheiro" nos faz sentir culpados por simplesmente parar. Se não estamos produzindo, parece que estamos desperdiçando tempo. Mas será que medir o tempo apenas pelo que produzimos não é uma forma de nos afastarmos daquilo que realmente importa?

          Talvez a solução esteja em resgatar a simplicidade de outros tempos, em desacelerar e enxergar a beleza do agora. Porque o tempo sempre terá a mesma velocidade — quem muda somos nós e o que fazemos com ele.

 

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