O Tempo que Nos Escapa / Carmen Regina T. de Quadros
Mais um mês chegou ao fim, e outra vez surgiram os comentários sobre
como o mês pareceu interminável. Mas por que tanta pressa para que o tempo
passe? Por que essa ansiedade constante em relação aos dias, como se estivéssemos
sempre esperando algo melhor no futuro? Passamos o ano contando as horas para
as férias, e quando elas chegam, lamentamos que passaram rápido demais.
O
tempo, no entanto, é um mistério. Às vezes parece nos arrastar consigo, outras
vezes voa sem que percebamos. Mario Quintana já nos alertava sobre essa
cegueira cotidiana: “Quantas vezes, tal como o avozinho infeliz, os óculos
procuramos, tendo-os na ponta do nariz”. Assim também vivemos em relação ao
tempo e à felicidade. Muitas vezes, aquilo que tanto procuramos está bem diante
de nós, mas seguimos distraídos, esperando algo grandioso, sem notar que o
presente já é valioso.
Vivemos
numa eterna contradição: queremos que o tempo corra quando estamos
sobrecarregados, mas desejamos que ele desacelere nos instantes que nos trazem
felicidade. O tempo, no entanto, não obedece nossos anseios. Ele apenas flui. A
sensação de que um mês se arrastou ou voou está mais ligada ao nosso estado de
espírito do que ao relógio. Quando estamos cansados, preocupados ou entediados,
o tempo parece se estender. Já quando estamos felizes ou distraídos, ele
escorre entre os dedos.
Curiosamente,
quando éramos crianças, o tempo parecia infinito. As férias eram longas, os
dias se estendiam entre brincadeiras, e as esperas pareciam eternas. Mas, à
medida que crescemos, passamos a medir o tempo por compromissos, prazos e
responsabilidades, e ele começa a escapar de nós. O que muda não é o tempo em
si, mas a forma como nos relacionamos com ele.
O mundo também mudou, e com ele nossa
percepção da passagem do tempo. Antes, as pessoas caminhavam mais, viviam com
menos pressa. Como as interações eram mais profundas, os encontros tinham mais
significado. Hoje, com a aceleração digital, tudo se tornou instantâneo. A cada
notificação que recebemos, nossa atenção é desviada para o futuro, para o que
vem depois, e nunca para o agora. A pressa em consumir informações e a
necessidade de estar sempre atualizado criam a sensação de que o tempo escorre
pelos dedos. Mas será que ele realmente passou mais rápido ou fomos nós que deixamos
de vivê-lo com plenitude.
Além
disso, aprendemos a associar o tempo à produtividade. A ideia de que
"tempo é dinheiro" nos faz sentir culpados por simplesmente parar. Se
não estamos produzindo, parece que estamos desperdiçando tempo. Mas será que
medir o tempo apenas pelo que produzimos não é uma forma de nos afastarmos
daquilo que realmente importa?
Talvez
a solução esteja em resgatar a simplicidade de outros tempos, em desacelerar e
enxergar a beleza do agora. Porque o tempo sempre terá a mesma velocidade —
quem muda somos nós e o que fazemos com ele.
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