quinta-feira, 24 de abril de 2025


 

Lâminas / Sid Fontoura.

Durante a noite, na solidão do meu quarto, tento, mas sem sucesso, um minuto de paz, um equilíbrio entre meus sentimentos, e minha realidade. Mas a escuridão é cruel, e com ela vêm as lâminas pungentes e invisíveis da mente, trazendo tudo aquilo que desejamos esquecer.


Os olhos abertos, mas sem nada ver, se turvam pelas lágrimas, que aos poucos brotam, sem que possa controlá-las, e com elas, aquele sentimento de abandono, de desespero.


A respiração se acelera, o corpo se contrai, os braços circundam as pernas e o rosto quase recai sobre os joelhos, em um gesto de completa servidão, indefeso, enquanto as cruciantes lâminas, vão aos poucos, dilacerando meu coração, e o fazem sangrar.


Sinto-me envolto pela tristeza, mágoa, remorso, e o manto da infelicidade cobre-me por completo.


Mas meu coração, teimoso que é, mesmo em pedaços, não deixa de bater, resiste, persiste. Parece que naquele momento, ele roga por uma redenção, que possa tirar-nos deste tormento.


A noite caminha lenta, perdurando minha angústia.
E quando amanhece.


A profunda tristeza se esvai, sem ao menos notar,
meus olhos tristonhos, em um canto do quarto, até o sol raiar.

 

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