sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

 


 

A Memória que Dança em Nós/Carmen Regina T. de Quadros

 

Quando a família real portuguesa chegou, trouxe mais que malas e modos refinados. O que já existia – povos, línguas, danças e histórias – foi rotulado como “atraso”. Os povos originários, que por séculos viviam e criavam suas culturas aqui, viram seus mundos serem apagados pelas mãos que só valorizavam o que cabia em molduras europeias.

Depois vieram os africanos. Não com malas, mas acorrentados, arrancados de suas terras pela brutalidade da escravidão. Trouxeram na bagagem forçada muito mais do que imaginavam: fé, música, resistência e vida. Mas essa riqueza foi marginalizada, já que aqueles que só enxergavam superioridade em si mesmos não conseguiam conviver com tamanha vitalidade.

Essa força, porém, nunca se apagou. Ela está na nossa comida, na nossa música e na nossa língua. Palavras como “moleque” (do quimbundo mu’leke), “axé” (do iorubá) e “quitanda” (do kitanda) são sementes plantadas ao longo do tempo, assimiladas por todos.

A herança também vive nos cabelos crespos e volumosos, que, por anos, foram alvo de preconceito, vistos como algo a ser escondido, hoje, são afirmação de orgulho. E na música, então, a presença africana é inegável. Não há Brasil sem samba, capoeira ou maracatu – cada expressão celebra uma ancestralidade que nunca se apagou.

Mas será que valorizamos essa herança? Celebramos o samba, a capoeira e o vatapá, ou consumimos tudo isso sem nos darmos conta de sua origem? O Brasil é uma mistura única de sons, sabores e memórias. Reconhecer a cultura afro-brasileira é essencial para entender quem somos: um povo feito de muitas cores,  histórias e persistência.

 

Carmen Regina Teixeira de Quadros/ fevereiro de 2025.

 



ALMA GÊMEA  / Liti Belinha


No umbral da porta te vejo. 
Às vezes, vais devagar. 
Comigo és um solfejo. 
Me queres? Podes me amar?

Na boca, marcas sensíveis. 
Nos olhos, sonhos visíveis. 
És elegante como eu. 
Andas como anjos no céu. 

Obrigada, companhia. 
Se eu fosse você, não iria. 
Alma gêmea, efêmera, 
Andas como eu, sem câmera. 

Passos leves que vão e vêm  
SOMBRA, quero a tua companhia de noite também. 

(Janeiro 2025)

sábado, 15 de fevereiro de 2025

 

                                            


   MELHOR FASE /Jorge Remi Hansen

A maturidade é deslumbrante! Ao mesmo tempo pacificadora e cheia de calmarias.

As disputas da juventude, os peitos inflados, os destemperos, perdem o sentido depois de uma certa idade.

Rememorando as  atitudes que tivemos em tempos passados, até nos envergonhamos de atos que praticamos enquanto éramos imaturos. Maturidade  é ter a coragem, equilíbrio, ousar dizer: “ Eu errei!”  Assumir o erro, ter a humildade de pedir perdão e perdoar.

Faz-nos pensar quando vemos nossos filhos, jovens , exasperados para resolverem situações, um tremendo quebra cabeça, mas que para nós, hoje, são banais. Podemos, em primeiro momento, até nos decepcionar, mas o tempo nos faz  encarar como algo de bom, um constante aprendizado. À medida que  evoluímos, vamos deixando  de lado certas práticas, evitando situações que nada nos acrescentam.

Como  nos desgastamos com coisas tão sem importância, mas depois de maduros conseguimos  compreender! Devemos olhar com  certa leveza para algo errado, ruim no passado, mas um aprendizado e amadurecimento. É seguir em frente, mesmo quando o caminho é difícil e longo...

Os arroubos da juventude passam a ser uma roupa que não nos serve mais, nem com ajustes e remendos  fica confortável, melhor abandoná-la.  A idade é um número, chega para todos, e não retrocede. Maturidade  é atitudes positivas, pensadas... ficar calado, sabe  o valor do silêncio, quando a outra pessoa espera que gritemos... dizem que: levantar a voz é sinal fraqueza, de falta de argumentos.

Maturidade  é apreender a se afastar de pessoas e situações que afetam a nossa paz e auto estima. Nos dá uma dose generosa de bom senso, nos faz lutar por aquilo que realmente importa. Uma pessoa madura possui uma força indescritível dentro de si, agem de acordo com o que acreditam e impressionam pela segurança, serenidade, exemplo e história de vida. Nunca deixam morrer a criança que um dia foram.

Sabemos para onde ir, de onde não devíamos ter saído e para onde não devemos, podemos voltar.

É uma época de certezas, menos erros, mais consciência e acertos. Nos aproximamos do que chamamos de paz.

Mas essa paz não pode significar acomodação, temos que nos manter atualizados, ativos, produtivos para ainda sermos merecedores de fazer parte dessa grande aventura chamada VIDA.

Fevereiro/2025

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

 


 

Feliz de quem vê.../Paulo de Vargas

 

Feliz de quem vê o Deus numa flor,

florescendo amor noutro coração,

de quem enxerga no próprio espelho,

dando conselho e estendendo a mão.

Feliz de quem vê Deus nalgum pedido,

dando ouvido, preocupado no ser,

e, de quem vê o Maior num olhar,

mirando semear sem querer colher.

 

Feliz de quem vê Deus num arvoredo,

sem guardar segredo no seu caminho,

de quem vê na opinião diferente,

vendo o onipotente num passarinho.

E, de quem vê o supremo no mar,

num bom barco a navegar com seus entes,

rumando e desejando o mesmo norte,

aplaudindo a sorte dos seus parentes.

 

Feliz de quem vê o Deus num amigo,

dando-lhe abrigo na vida terrena,

de quem vê no verde a sua esperança,

no olhar da criança para a vida plena.

Feliz de quem vê nosso Deus em tudo,

tendo como escudo o amor sem fim,

mesmo no olhar carregado de guerra,

fazendo da terra um belo jardim.

 

Verão de 2025

IVOTI-RS 


 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

 



A sombra solidão/Leandro Matte

 

Madrugada. Acordei assustado. Minha sombra sumiu!

Aliás, nem a vi durante a noite, e quando me dei conta disso, meu medo foi ainda maior.

Quase não enxergava nada ao meu redor.

A escuridão somente não tomava conta de tudo porque a penumbra era mais teimosa.

Tratei de olhar ao redor - nada. Onde teria ido?

Minha sombra estava comigo ainda ontem, o dia todo.

Talvez por isso não goste da noite: fico sozinho no escuro.

 


  Literatura, memória e partilhas: Carmen Regina na Start Comunicação A professora e escritora Carmen Regina T. de Quadros participou recen...