A Memória que Dança em Nós/Carmen Regina T. de Quadros
Quando a família real portuguesa chegou, trouxe
mais que malas e modos refinados. O que já existia – povos, línguas, danças e
histórias – foi rotulado como “atraso”. Os povos originários, que por séculos
viviam e criavam suas culturas aqui, viram seus mundos serem apagados pelas
mãos que só valorizavam o que cabia em molduras europeias.
Depois vieram os africanos. Não com malas, mas
acorrentados, arrancados de suas terras pela brutalidade da escravidão.
Trouxeram na bagagem forçada muito mais do que imaginavam: fé, música,
resistência e vida. Mas essa riqueza foi marginalizada, já que aqueles que só
enxergavam superioridade em si mesmos não conseguiam conviver com tamanha
vitalidade.
Essa força, porém, nunca se apagou. Ela está na
nossa comida, na nossa música e na nossa língua. Palavras como “moleque” (do
quimbundo mu’leke), “axé” (do iorubá) e “quitanda” (do kitanda)
são sementes plantadas ao longo do tempo, assimiladas por todos.
A herança também vive nos cabelos crespos e volumosos,
que, por anos, foram alvo de preconceito, vistos como algo a ser escondido, hoje,
são afirmação de orgulho. E na música, então, a presença africana é inegável.
Não há Brasil sem samba, capoeira ou maracatu – cada expressão celebra uma
ancestralidade que nunca se apagou.
Mas será que valorizamos essa herança? Celebramos o
samba, a capoeira e o vatapá, ou consumimos tudo isso sem nos darmos conta de
sua origem? O Brasil é uma mistura única de sons, sabores e memórias.
Reconhecer a cultura afro-brasileira é essencial para entender quem somos: um
povo feito de muitas cores, histórias e
persistência.
Carmen Regina Teixeira de Quadros/ fevereiro de 2025.