sexta-feira, 1 de agosto de 2025

 


O Poder das Ideias na Construção de Destinos

Vivemos em um mundo onde tudo parece se mover a partir de ações visíveis, palpáveis e concretas — mas que muitas vezes não conseguimos acompanhar em tempo real: decisões políticas, mudanças econômicas, avanços tecnológicos... No entanto, por trás de cada uma dessas transformações, há algo mais sutil, quase invisível, mas extremamente poderoso: as ideias.

Toda ideia — seja ela boa ou ruim — nasce de um conjunto de pensamentos, que se transformam em emoções, ações, comportamentos, padrões e, por fim, no rumo que damos à nossa vida.

Enquanto alguns acreditam que o destino é algo traçado antes mesmo de nascermos, outros o enxergam como uma construção contínua, uma obra em andamento. Diferente da utopia que, como dizia Gabriel García Márquez, se afasta à medida que caminhamos em sua direção, o destino se aproxima. Isso porque ele se concretiza a partir das escolhas que fazemos, dos sentimentos que cultivamos e, sobretudo, das ideias que nos movem e — por que não mencionar aqui? — das utopias que idealizamos um dia.

No século XVIII, Jean-Jacques Rousseau já colocava o pensamento no centro da organização social. Em O Contrato Social, ele defendia que a verdadeira transformação da sociedade exigia uma nova forma de pensar sobre liberdade, justiça e poder político — ou seja, uma mudança nas ideias que sustentam nossa convivência.

O filósofo brasileiro João Carlos Brum Torres, ao comentar essa obra, reforçou que tais ideias não são apenas um reflexo da economia (das condições materiais como trabalho, propriedade ou tecnologia). Mesmo em uma sociedade fortemente determinada por sua estrutura econômica, as ideias têm o poder de moldar instituições e transformar a história. Elas podem desafiar, tensionar e até romper com a base que as gerou — como pequenas rachaduras num muro de concreto: começam discretas, mas podem derrubar tudo.

O curioso é que, muitas vezes, não percebemos que as grandes viradas históricas foram semeadas muito antes de se tornarem fatos. Elas nascem em forma de conceitos, debates, reflexões filosóficas ou ensaios políticos que vão se espalhando, ganhando força e, eventualmente, moldando sociedades inteiras.

Mas fique claro: as ideias não são todas boas. Algumas libertam, outras aprisionam. Há pensadores que se dedicam a denunciar injustiças, propor alternativas e provocar transformações que só serão compreendidas no futuro. Outros, infelizmente, são cooptados para validar discursos de poder — preparando o terreno para imposições disfarçadas de progresso.

A forma como vemos, interpretamos e pensamos a sociedade determina o mundo que construiremos. E, ao contrário do que parece, não são apenas as grandes decisões políticas ou os avanços econômicos que mudam a sociedade. São também aquelas ideias que nascem em “fundo de quintal”, que inspiram, provocam, incomodam — e que, plantadas hoje, se transformam em um destino individual ou coletivo amanhã.

Por isso, pensar com profundidade  e olhar além do discurso aparente é um ato político. Toda ideia carrega uma intenção — e, muitas vezes, uma estratégia.
Saber disso é fundamental para compreender o mundo que estamos construindo.

Afinal, o destino não é algo que cai do céu. Ele é o encontro entre o que pensamos enquanto indivíduo e o que muitos idealizaram antes de nós.
Se hoje vivemos em democracias, com acesso à educação ou à saúde, é porque alguém ousou imaginar isso antes de nós. Da mesma forma, se enfrentamos retrocessos, é porque também houve quem alimentasse essas ideias.

Portanto, somos, ao mesmo tempo, a origem, o reflexo e a consequência das ideias que nos cercam — sejam elas nossas ou herdadas da cultura.
Algumas nascem de nós; outras nos moldam e nos afetam sem que percebamos.

Patrícia Pedrozo

Jornalista e agente de viagens
MTB 0020373/RS

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